"Reconheço que me excedi", afirma deputado do PS

Exasperada com Ricardo Gonçalves (PS), Maria José Nogueira Pinto chamou-lhe "palhaço". Gonçalves, na resposta, acusou-a de se "vender a qualquer preço" para ser deputada. À noite, mais calmo, pediu desculpa.
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Ricardo Gonçalves, deputado do PS, admitiu ontem ter ido longe de mais ao acusar Maria José Nogueira Pinto, deputada independente eleita pelo PSD, de se "vender por qualquer preço para ser eleita por qualquer partido". "Reconheço que me excedi", são "exageros próprios do calor da luta", disse o parlamentar socialista, ontem à noite, entrevistado na TVI24.

Em causa está o facto de, numa reunião da Comissão da Saúde, a crispação parlamentar ter atingido novos máximos - que já estavam em níveis bastante elevados depois de, na sexta-feira passada, José Sócrates ter recomendado "juizinho" a Paulo Portas.

O incidente entre Maria José Nogueira Pinto e Ricardo Gonçalves ocorreu quando a eleita do PSD falava sobre a construção de novas unidades hospitalares. Exasperada com os constantes apartes de Gonçalves, desabafou, deixando todos os presentes embasbacados (a começar pelo próprio Ricardo Gonçalves, que corou tremendamente): "Sabe, há pouco eu estava a perguntar-me de onde é que saiu este palhaço, que é o senhor... E sabe porquê? Porque eu nunca tinha visto um palhaço permanente numa Comissão Parlamentar..."

Gonçalves sacudiu rapidamente o espanto. E saiu-lhe a frase de que mais tarde viria a pedir desculpa: "A senhora não domina esta área, veio de outra área, veio de outro partido, está sempre a mudar de partido, nunca está em lado nenhum, vende-se por qualquer preço para ser eleita por qualquer partido e portanto faz estes papéis com muita facilidade..."

A temperatura atingiu tais níveis que o presidente da comissão, Couto dos Santos (PSD), ameaçou suspender os trabalhos. O que acabou por não acontecer. Num outro momento, anterior, os ânimos já se tinham exaltado quando um deputado do PS considerou as posições de um deputado do CDS como "esquizofrénicas". João Semedo, do Bloco de Esquerda, resumiu o mal-estar: "Nem os palhaços nem os esquizofrénicos merecem as palavras que ouvimos de vários deputados nesta sessão."

Na TVI, Ricardo Gonçalves explicou-se. Disse que se estava a limitar a exercer o direito regimental aos "apartes". Pareceu inclusivamente ironizar: "Os apartes são tão importantes que estavam na comissão parlamentar duas funcionárias só para tomar nota deles. Se acabássemos com os apartes aquelas duas funcionárias iam para o desemprego."

Prometeu que, doravante, se deixará de comentários paralelos às intervenções da deputada independente do PSD: "É melhor não. A senhora é muito sensível." Maria José Nogueira Pinto soube da entrevista do parlamentar socialista e, interpelada pelo DN, entendeu não comentar.

Tratou-se, todo o episódio, de mais uma machadada na imagem da Assembleia da República. Na terça-feira à noite, Medina Carreira comparou o Parlamento à Assembleia Nacional de Salazar. "Aquilo [o Parlamento] vale tanto como a Assembleia Nacional do Salazar. Eles não valem nada, não têm voz activa", disse o ex-ministro das Finanças.

Falando durante a tertúlia 125 Minutos com..., da jornalista Fátima Campos Ferreira, que decorreu no Casino da Figueira da Foz, Medina Carreira disse que no tempo de Salazar a "mistificação" na Assembleia era "igual" mas "mais autêntica": "Salazar dizia 'ninguém mia' e ninguém miava. Agora é um fingimento, quem está na Assembleia da República são os tipos escolhidos pelo chefe do partido, se miam não entram na legislatura seguinte e como vivem daquilo têm de não miar."

O jurista rotulou os deputados de "obedientes" e "escravozitos que andam por ali na mão dos chefes partidários". "Sabem que se falarem, não entram [nas listas]", disse, dando como exemplos o histórico socialista Manuel Alegre e os ex-ministros Manuel Maria Carrilho e João Cravinho: "O Alegre falou, correram com ele, ao Manuel Maria Carrilho deram-lhe um lugar bom em Paris, o Cravinho começou a mexer na corrupção deram-lhe um lugar em Londres. E aqueles outros que não podem ir nem para Londres nem para Paris, calam-se."

O ex-ministro das Finanças considerou ainda que dos 230 parlamentares actuais, o número de bons deputados "não excede os 30 "e o resto" anda lá para cumprir horário".

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